BRINCAR DE VIVER...


Você já parou para pensar no tempo que desperdiça tentando descobrir o porquê de estar com parkinson? A resposta é muito simples: viver - coisa que muitos de nós não fazem. Deveríamos viver mais e muito mais intensamente cada fração da nossa vida, mas para se viver bem é preciso saber, primeiramente, como se viver. Ora, o que se mais vê é parkinsoniano que não sabe viver! Pessoas cinzentas, sem brilho nos olhos, pessoas com as mãos enfiadas nos bolsos das calças, pessoas com a respiração pesada, que não percebem que os cabelos estão cada vez mais alvos e ralos, mas que continuam anestesiadas, em sua procissão em direção à morte em vida. Pessoas que não aprenderam a viver e simplesmente vagam como espectros. Não seja um espectro, aprenda a viver já!

Você deve estar se perguntando: mas como eu aprendo a viver? Bom, não existe um livro, um guia ou coisa do tipo. Aprende-se a viver simplesmente vivendo, mas é fácil saber quando não se está vivendo.

Viva. Viva de forma sábia e intensa. Trabalhe, crie, ria, chore, ame! Não há nada mais triste do que abrir o livro da sua vida, ao fim dela, e deparar-se com páginas em branco.

Não podemos brincar de viver, a vida é muito séria e quando saímos de um sonho para a realidade temos de bater de frente com os problemas da vida, comuns a todos ou não, são problemas que precisam e devem ser encarados. A todo o momento somos pego de surpresa por um novo problema, basta festejar uma vitória que logo surge outro tropeço, então a vida nos sugere que estejamos sempre alertas, ainda assim viver é bom demais. Brincar de viver deve ser melhor ainda, certamente que na brincadeira eu vou preferir excluir os problemas e brincar apenas com as soluções.


EU DEVIA TER...




EPITÁFIO é a inscrição que se coloca na lápide de um túmulo. Na sua origem, era uma inscrição que narrava os maiores feitos dos grandes heróis e/ou cavaleiros, nobres e reis. Posteriormente se popularizou, e passou a ser utilizado para exaltar as qualidades de uma pessoa (um bom pai, um bom marido, uma boa mulher, etc...) ou os sentimentos das pessoas próximas ("deixará saudades", "nunca o esqueceremos"). 
É o nome de uma música dos Titãs ("Queria ter me preocupado menos, com problemas pequenos...") que tem este nome justamente porque a música representa um epitáfio escrito pelo próprio morto, sobre o que ele gostaria de ter mudado em sua vida.
Ouvindo a música, percebi que Os Titãs colocaram nessa linda melodia uma reflexão sobre a vida. Há muito tempo vinha procurando por isso, na verdade sempre pensei, apenas não conseguia parar. De umas semanas para cá venho passando por algumas situações que me fizeram parar, desacelerar um pouco e rever meus conceitos sobre as diversas coisas, sobre a vida.

ESCREVER...

Recebi um e-mail de um amigo parkinsoniano onde entre outras coisas, ele me pergunta: Por que você escreve estes textos no blog? Respondi ao seu e-mail dizendo que iria fazer um post sobre sua pergunta. Então, vamos lá...


Escrevo porque gosto. Sinto-me bem escrevendo. 

Escrevo porque sinto necessidade. Nesse sentido, é uma terapia.

Escrevo porque quero que os outros leiam.
Escrevo para ver se me organizo, se ponho ordem na "casa".


Escrevo, sobretudo, para perder o medo, todos os medos.

Escrevo para tentar o mínimo de diálogo com o meu tempo, com a minha brevidade.
Escrevo para suavizar as dores que sinto. Escrevo essencialmente porque me dói escrever e também me dói não escrever.
Escrevo porque não sei pintar, não levo o menor jeito para a música e porque me frustra profundamente a consciência de não saber esculpir.
Escrevo para não endoidecer de tanto pensar. Definitivamente, não escrevo para ficar. Escrevo para simplesmente ser.
Escrevo porque já tropecei demais.
Escrevo para ter fé de que dias melhores virão.
Escrevo para sonhar com o futuro.
Escrevo porque a vida é um drama e eu preciso do sossego do cantinho espremido da página de um livro, mesmo que imaginário.
Escrevo porque qualquer página em branco, mesmo que seja a tela do computador, me dá uma fissura danada.
Escrevo porque tive um dia bom. Escrevo porque tive um dia ruim. Escrevo porque tive um dia mais ou menos.
Escrevo pela força do hábito.
Escrevo para não me largar de mão. Escrevo para não deixar pra lá.
Escrevo porque sou carente.
Escrevo porque sou osso duro de roer.
Escrevo porque escuto mais do que devo e devo mais do que escrevo.
Escrevo para ouvir a voz dos calados.
Escrevo com a humildade da primeira vez em que peguei num lápis e rabisquei conscientemente a primeira letra.
Escrevo para rabiscar por cima, nunca apagar.
Escrevo para tentar me ver diferente.
Escrevo porque a escrita me liberta de mim.
Escrevo porque perdi muito tempo. Escrevo porque a eternidade pode estar ali depois da esquina.
Escrevo porque não tenho certeza de nada.
Escrevo porque o mundo é cheio de estímulos e eu sou um terminal nervoso.
Escrevo porque penso melhor escrevendo.
Escrevo para amar melhor e me amar mais ao longo de um longo dia.


As pessoas estão desobrigadas a darem sempre um retorno. Respondem se querem, se têm algo que as leve também a quererem responder, seja concordando, discordando. Mas acredito que quase sempre elas ficam pensando na mensagem que receberam, e essa é a idéia. Aí as pessoas reformulam, reorganizam aquilo tudo e então, sim, assimilam. Antes disso, pode ser que digam 'não é isso que eu quero para mim', e deletem o que não queiram assimilar, e esse é um direito delas, não acha?

A gente faz coisas que considera importante e outras que dão um sentido novo à própria vida ou à do outro; outras tantas são para alegrar, divertir, conscientizar, educar, perdoar, pedir perdão, ensinar... e muitas de nossas atitudes, de nossos gestos e comportamentos têm, conscientemente ou não, mais de um desses intentos, não é mesmo? 

PENSE NISSO...

Imagine um comandante de um navio ou de um avião que não sabe para onde ir. Uma viagem impossível, não? Pois muito parkinsoniano vive assim, sem rumo, seguindo o fluxo. Dorme, acorda, levanta e faz as mesmas coisas. Repete os mesmos programas e as mesmas sensações. Se lhe perguntarem aonde quer chegar, o máximo que conseguirá definir é o seu ponto.

Há um verso do poeta português Fernando Pessoa que fala sobre os momentos em que é preciso abandonar as velhas roupas, os velhos hábitos e os velhos caminhos e se lançar em algo novo, ainda que totalmente desconhecido. O poeta termina seu texto afirmando: "e quem não fizer isso, terá ficado à margem de si mesmo". Resumindo, ele sentencia os medrosos à frustração de não terem se dado outra oportunidade de serem felizes, preferindo permanecer na situação já conhecida, mesmo que ela seja ruim.

Podemos passar a vida inteira presos a uma história infeliz ou nos libertarmos dela para criar e viver uma nova vida. É só escolher! Problemas todo mundo tem, inclusive, aqueles que se julgam "sadios", mas, continuo afirmando que mesmo diante das adversidades da doença que nos acomete, há sempre dois caminhos à nossa frente: o do sofrimento e o da superação. O primeiro é bastante atraente porque não nos cobra reação. Com ele, assumimos o papel de vítima e nos lamentamos. Às vezes, até conseguimos alguns benefícios eventuais, porém, a cada dia, nos afundamos ainda mais no fracasso. Para sair dessa situação, é preciso coragem e clareza para ver a realidade como é, além de determinação e criatividade para encontrar saídas. É preciso força, para não desanimar. É preciso realmente que haja superação.

Tem uma frase do neurologista que me trata – Dr. Wagner Horta, quando do diagnóstico da doença, que nunca esqueci: "Edgar, a doença de Parkinson é como uma escada. Existem vários degraus. Você pode até descer alguns degraus, mas a escolha de subir ou descer será sempre sua".

"É um grande privilégio ter vivido uma vida difícil". Esta frase é de Indira Gandhi e para a maioria dos ocidentais é uma aberração, porque ao contrário dos hindus, o sentido da vida para eles é o que se vê logo adiante.

Reflita sobre seu comportamento.

Os pensamentos e as emoções só permanecem conosco se os acolhemos. Eles não têm vida própria.

É importante sabermos o caminho correto.

Além do Mal

Descobri-me muito além do Mal
da emoção de todos os limites transpondo
Pisando ainda oscilante,trôpego em solo desconhecido.
Deixando fluir, me desarmando, me expondo.
Vagando...

Burlei preconceitos, ignorei preceitos.
Mergulhei na degeneração oferecida.
Desnudei a alma, libertei sentimentos.
Imergi as dores impostas pela nova vida

Deixei a voz que é silêncio me trasladar
não Cri no portal que se abriu pra mim
E no despojado gesto de me amar assim

Ao emergir, corpo e alma renovados.
Deixei na fonte resquícios de memória
E sem medo de seguir, reeditei minha historia.
Me amei assim,como sou.

Contribuição de J. Trindade, Parkinsoniano, Porto Seguro-BA

Ainda falando em ATITUDE...

A atitude começa pelo autocontrole. Exige determinação e capacidade de autodomínio para não se deixar levar pelo estado emocional do momento. Primeiro não há como saber o amanhã, não há um jeito de sabermos como lidar em várias situações, a não ser que elas apareçam em nosso caminho. Segundo, a vida de ninguém é igual à de ninguém. Pois é, a vida é uma coisa singular, única, cada um tem a sua. Não devemos ser nem 08 muito menos 80, devemos sim, avaliar a situação, pesar e daí sim partir para o que melhor se enquadra como solução em nossas vidas.

É preciso ter convicção daquilo que se quer, também é necessário manter o objetivo em mente a fim de superar momentos de desânimo e seguir em frente. A atitude impede que você fique no meio do caminho ou, o que é pior, que não comece nunca. Ela muda a sua relação com você mesmo e torna evidente a importância de cumprir os compromissos necessários para alcançar as suas metas.

Adotar uma atitude significa fazer o esforço necessário para incorporar a nova atitude à rotina, não importa quantas vezes seja preciso cair e levantar. Ela exige atenção, esforço, responsabilidade. Exige também a vigilância sobre si mesmo, que é evitar a armadilha das justificativas. Significa assumir a responsabilidade pela própria vida, consciente de que cada um tem em si as ferramentas necessárias para mudar padrões de comportamento que não estão funcionando e substituí-los por outros.

Ter atitude é quando você confia na própria capacidade de aprender e de mudar seguindo o fluxo da vida. É assumir o controle da sua vida em vez ficar à mercê dos acontecimentos. 

A melhor recompensa de uma atitude é perceber que não há limites para o próprio crescimento e que quanto mais exercita, mais forte e realizado o ser se torna. 

A ação é à base de toda mudança e não pode haver ação consistente sem que se adote uma atitude. A Atitude é a alma das realizações.

Superando obstáculos...

Ultimamente tenho tido vários momentos de reflexão e em um destes momentos, me perguntei: "O que preciso fazer para superar a crise?" Então, lembrei-me de minha vida como parkinsoniano e automaticamente veio a resposta: "A T I T U D E". Parece batido, comum? Parece sim, mas é a resposta.

Ontem pela manhã ouvi alguns jornalistas enquanto tomava meu café, também escutei a entrevista de um economista, um especialista em bolsa de valores e um consagrado jornalista econômico, e sabe de uma coisa? Se eu tivesse engolido tudo que ouvi seria melhor ficar em casa, na cama esperando a morte chegar, e, mesmo saindo, se tivesse levado todos aqueles sons para o meu dia certamente perderia quase toda a minha energia e força para conquistar um dia de vitórias. Comportar-se como um gato assustado era uma opção, mas, assumir o controle do destino de minha empresa e de todos que dependem dela, era também uma opção. Comprar a postura derrotista e alarmista de alguns formadores de opinião era uma opção, mas, manter minhas emoções sob controle e colocar-se em estado de pró-atividade e confiança também era uma opção, não me importando se a base delas são os erros que cometi e o aprendizado que isso gerou ou os acertos, frutos desse aprendizado, que me levaram a conquistas.

Foi tudo uma questão de atitude. Para começar me recusei a fazer parte da boiada e a cada soar dos berrantes do Apocalipse eu me perguntava qual a melhor direção, qual a melhor atitude, quais as alternativas, quais as oportunidades, quais as possibilidades, e o incrível: Aproveitei muitas oportunidades, encontrei muitos atalhos, descobri tesouros escondidos ao redor das trilhas porque simplesmente me recusei a olhar somente para onde os boiadeiros apontavam.

Atitude não implica em ignorar os riscos, nem minimizar o óbvio, tão pouco ser um otimista perdido do sentido da realidade, mas, implica sim em assumir o controle, esta é a questão fundamental: QUEM CONTROLA VOCÊ DURANTE A CRISE? Não dê a outros o direito de ditar seu comportamento e sentimentos, assuma o controle de si mesmo, este é, a meu ver, o grande segredo para superar qualquer embate.

Tudo depende das "ESCOLHAS QUE FAZEMOS", não é TeTê?

Pra quem disse que por ser parkinsoniano seria mais difícil sair da crise, aí está mais uma prova de que somos capazes.

 

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